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Guarda-chuva contra você

Postado por Ana C. |

Uma gota cai lá fora, molhando o rosto de alguém que olha para cima indagando se vai chover.

Mais além nuvem escura se vai, como quem resolve derramar no meio de cidade nenhuma. Quem sabe desabar como grito primal que ecoa varrendo imensidões vazias de civilização. Um homem, sozinho e nu em uma praia deserta, corre do vento que enche seus olhos de areia. Água suspensa que ventania carrega levantando pó, que gruda nos cabelos e nas plantas, e decide – sem trovões – desabar mais longe, silêncio entre as muralhas mais altas, sempre uma benção.

O fato é que sempre viveremos sem saber. É só depois do momento exato em que nossos rumos se bifurcam, labirinto espiralado, que saberemos que aquele era o ponto de ruptura. Seguimos por aí, porque se parar de pedalar você cai, mas somos quase andróides, meio cegos, meio robôs. Respeitamos programação feita sabe-se lá por quem, mas sentimos no fundo do coração (quando ele ainda resta humano) a dor de não querer fazer parte das engrenagens. Só depois descobriremos que é preciso primeiro quebrar para, então, poder consertar: quem sabe humanizar nossos parafusos ao invés de atarraxá-los. Não nos enganemos.

Tudo é um salto no escuro.

Até esses tais encontros, fatos inevitáveis, do destino-acaso-coincidência-conjunção-astral. Algo como a pessoa morar lá do outro lado do planeta, país longínquo, sem sequer desconfiar que o pedaço que lhe falta está distante, em algum lugar perdido do sul do mundo. Até que o destino e os caminhos se esbarram, marcando xis no mapa.

Até que um deles olha para cima em um início frio de noitinha e, distraído, tropeça em alguém. Bem no momento que começa a chover.

3 comentários:

Pedro Vieira disse...

Você deixou vir à tona!
Meus parabéns!

Camila Rufine disse...

Ana,
seus textos têm ritmo, alma. Dói ler (mas é uma dor gostosa). Toda vez me identifico com alguma coisa que eu nem mesmo sabia que sentia/pensava.

E fico na espera pelo próximo texto, mais uma vez.

Drica disse...

acho que escrever sara a gente.

e como você escreve cada vez melhor ana...
que muito bom isso
=D