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Em tudo o que vejo, o brilho do seu rosto

Postado por Ana C. |

Ele me olha.

Caminhantes do sendeiro da luz. Será ele, enfim, aquele que eu conhecia antes de me dar conta disso? Ou será apenas magnetismo, lua quase cheia, tão repletos de beleza que estamos. Ao seu toque uma torrente de ventos, fados, sóis, céus e florestas sagradas atingiu-me no peito, inundando os dias. Ritual. Uma força equilibra a outra para sermos um clarão ainda maior.

Eu olho, ele desvia o olhar.

A vontade é que o instante não acabe, essa hora mágica, não solta da minha mão. Sei que carregarei essa sensação e tentarei recriá-la buscando em todos os homens que cruzarem meu caminho. Também sei que será inútil. Quase tremo, lutando para segurar minha alminha que parece querer fugir do corpo. Mas estarei eu em sua viagem como você na minha?

Olhamos-nos ao mesmo tempo.

Penso em tudo que eu gostaria de dizer, da habitabilidade de minha alma, de tudo que eu vi e soube, do que eu tenho de mais precioso, do meu enorme esforço em aquietar minha mente. Mas no seu olhar eu leio todas as respostas, e não precisamos mais de palavras: sabemos. Sou tão feliz, vamos multiplicar os sonhos?

Abaixamos o olhar, constrangidos. Formigamento estranho por dentro.

Você pode estar pronto, mas nem tudo depende de você. Esperaremos, ainda que meu coração se revire no peito como o de criança em véspera de aniversário. Sem medo – o negro é a cor da descida: promessa de que você logo saberá algo que não sabia – não é preciso forçar nada. Tudo ajuda os puros de coração (e devora os impuros, não esqueça). Vou preparando o terreno, cada erro-tropeço-dor-sangramento da jornada marcado com flores, e em cada uma estrela oculta. Quanto mais dou mais tenho. Depois de velar e guardar os mistérios, quando chegar a hora, talvez eu pergunte o nome.

Não sei parar de olhar. Sei que ainda seremos amigos.

Enquanto espero, estamos todos em festa. Dançamos ao redor da fogueira, embalados por tambores ancestrais. Sento ao lado do fogo e abro todas as minhas portas, enquanto escuto a história de uma moça corajosa, que não tinha medo do escuro e que aprendeu sobre a hora de deixar morrer o que precisa morrer.

Uma estrela risca o céu. Sincronizados, pedimos exatamente o mesmo desejo.

2 comentários:

Drica disse...

quando há a reciprocidade do olhar é lindo! =D

Pedro Vieira disse...

Depois de velar e guardar os mistérios, quando chegar a hora, meu palpite é que talvez você não precise de um nome. Salve a feliz, fatal e inevitável ignorância!