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Um punhado de estrelas maduras

Postado por Ana C. |

É só quando o peito não consegue mais conter que a luz se derrama pelos olhos. O fato é que é mais fácil ser cinza, não refletir nem brilhar, porque a tal iluminação só acontece depois de se ter perdido a forma de amar.
Abre-se uma porta e das sombras sai você.
E se de lhe ouvir me veio uma saudade de não sei quando, tão grande, tão doce e tão pungente que me fez sentir criança, zero hora de vida, ao segurar sua mão. Fui eu quem não escutou direito antes? Mas é que a gente só enxerga as coisas quando pode, não quando quer.
Caí em fogo e nadei todos os mares da perdição. Vi homens e mulheres ardendo com uma sede infinita, sem nem saber de quê. Sobrevivi em pedaços. Foram longas noites sem lua até que eu me tornasse ossos e flores unidos através do relâmpago. Agora não sei mais ser diferente. Ver é irreversível. O tempo mexeu em tudo, sem mexer em nada. Fogo eterno.
Ele caminha até o jardim. Talvez o destino lhe prepare outro caminho e outra cilada. As pessoas tendem a se perder. Mas não devore seu coração, ainda que se misturem seus desejos. Sempre vão falar e é o presente que importa, quando plantamos os sonhos que iluminarão nossas madrugadas no futuro. Depois do terror da subida, a vista do alto é magnífica e silente.
Não podemos retirar-nos das coisas, das pessoas, e permanecer lá, na natureza das coisas perdidas. Somos todos pontos iluminados, formando uma estrela irregular e brilhante, feita de finos espinhos de luz. É preciso pegá-la com carinho e cuidado entre os dedos para não ferir as mãos, e ao olhar bem perto, dentro do ofuscamento, vê-se o tudo e mais nada. Uma das promessas do amor é de nunca forçar. Amor não é prisão, não é frio na barriga. É ter um sol e um arco-íris dentro do peito. O que o amor não resolve ficará sempre pendente. Morrer de não morrer.
A beleza de tudo é a certeza de nada.
A esperança de saber que é possível. Nada mais.

2 comentários:

Paula de Assis Fernandes disse...

Ana, sempre fico encantada com o que vc escreve! Lindo!

Tiago.:.n disse...

...e que o talvez torne a vida um pouco mais atraente.