Ato I
Ela entra timidamente no salão, cuidando para não esbarrar nas outras pessoas. Vai direto ao bar e pede uma dose, qualquer coisa forte o suficiente para tirá-la da falta de ar. Encontra uma brecha numa das paredes ao fundo, de onde consegue ver perfeitamente a banda, cada nota batendo no coração como se ele fosse um instrumento retesado. Dor, mas uma dor boa.
Ato II
Ele a enxerga assim que ela entra. Vai lentamente abrindo espaço até estar perto dela o suficiente para puxar conversa. Gostando da banda? Vem sempre aqui? Faz o que da vida, fora viver? Qual seu signo? Acredita em conjunção astral? É sério: parece que eu conheço você desde sempre! Vamos embora?
Ato III
Ai meu deus do céu!, minhas amigas não vão acreditar assim como nem eu acredito direito! É ele, o Cara com c maiúsculo, per-fei-to! Ele gosta de teatro, de cinema, de MPB, é artista e, além de tudo isso, ainda adora pimentão. Pimentão! Só eu sei quantos pratos sem pimentão fiz por causa daquele ex ingrato... nunca mais! Uma fase nova na vida. Quem diria? E ainda é engraçado! E eu lá mereço tanto!?
Ato IV
E como esse homem pode ser tão irascível!? E por que será que ele simplesmente não consegue apertar a pasta de dentes na ponta do tubo? E eu já repeti tantas e tantas vezes como me irrita que apertem o tubo no meio! E os longos silêncios? Ele senta diante da tela vazia e aí é como se só as tintas e os pincéis o pudessem entender em todo esse mundo louco. E eu não pareço sequer uma tela vazia em que ele queira jogar suas cores, sou sim invisível, falo e ele me responde com balbucios, saio e volto e ele nem dá conta da minha ausência. E o pior... é toda noite a mesma coisa: eu quentinha embaixo das cobertas e ele a noite toda encostando aquele pé gelado em mim! Gelado! Ninguém merece. Até quando aguentar?
Ato V
Ela entra timidamente no salão, cuidando para não esbarrar nas outras pessoas. Vai direto ao bar e pede uma dose, qualquer coisa forte o suficiente para tirá-la da falta de ar. Encontra uma brecha numa das paredes ao fundo e consegue ver perfeitamente a banda, cada nota batendo no coração como se ele fosse um instrumento retesado. Dor, mas uma dor boa...
2 comentários:
volto a dizer...odio de certas verdades....
e o "O amor"? merece um ato?
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