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Pra lembrar. Ou pra não esquecer.

Postado por Ana C. |

Pareço ser o que não sou e sou o que não pareço. Sou o que não tenho, o que me faz falta. Meu sangue é dos que não negociaram, minha alma é dos pretos, minha carne dos palhaços, minha fome das nuvens e não tenho outro amor a não ser o dos doidos. Tenho as cadeiras duras, não sei sorrir quando minhas entranhas se remexem. Sou do tipo que você não gosta mas um dia irá gostar, sou do tipo que você gostou e não quer mais gostar. Selvagem, pueril, descentrada, abúlica, hipodigma, gélida, pérola entre os porcos, puro sangue puxando carroça, exilada, misto de camponesa e estrela (espatifada?) no céu, apocalíptica, patética, pungente, imoral, inocente, ignorante, teimosa, possessiva (vítima do amor ruim), espartana, enigma, sem dosagem certa, torcida e reticente, sem senso de autocrítica desenvolvido. Não sei parar na hora certa. Cara de subversiva, de louca quieta e perigosa, ainda não precipitada (pode chegar que a louca é mansa). Não sou dessas que andam por aí, não, mais respeito, faça o favor!, doida porém funciono (entre os loucos há os que não são loucos). Sou uma viajante espacial. Olhos de cigana, dissimulada e oblíqua, e não há céu para. Posso resistir a tudo menos às tentações, o inferno me entende melhor. Fabulosa e inútil, sou de ouro puro. E quase mediúnica. Nasci repetente. Sou por um triz (on the verge of), porra louquice existencial, indecisa, andando às trambolhadas, esbarro aqui, esbarro ali, e chego enfim. Defeituosa e incompleta. Eu busco. Não perco minha fé nos embates, comigo, fugir do risco não é caminhar (não está em mim estancar lajeados e rios), meu modo é brigando. Não sei ceder. Às vezes sobro, me meto em cada uma, que vou te contar. Uma profunda falta de educação (olha só o que eu não sou) é que animais de boa raça não cacarejam. Aguento. Mas não me pisem nos pés porque dói. Nada me toca muito, mas gosto de ser tocada. Não vim para o deleite e sim para o açoite. Que doeria tinham me dito. Mas é que sou obstinada. Quero as verdades difíceis de suportar. Porém meu ódio é o melhor de mim (com ele me salvo e dou aos outros uma pequena esperança), pestis eram vivus – moriens tua mors ero. Os obesos, quando são maus, sabem coisas que só a adiposidade explica. Filha de Iansã. Estou aí pra quem me quiser. Outro amor? Não caio mais. (Why must you find another reason to cry?) Muitos na minha vida. Eu é que sei o quanto dói. Se o vento carregar pra longe o teu olhar mesmo assim te guardarei porque agora tanto faz. Pertenço ao número dos que viveram uma época excessiva, amor lerdo e cego, affair frustrado, eu sou mais forte do que eu. Sometimes, penso que mio cuore es uma basura. Exagerada em matéria de ironia e em matéria de matéria moderada. Metade gente, metade cavalo. Way of life feito de encrenca. Sou erro puro. E tenho alma canhota. Mas, com garantia, fico muito. Fulgente, e quem quiser que aguente. Se me chateio? Demais. Sou um segredo fechado a sete chaves. Por favor me poupem. Sou um domingo frustrado. Muito me foi dado, muito me foi tirado. O mundo não vale o mundo meu bem. Não amei ninguém, salvo aquele pássaro – vinha azul e doido – que se esfacelou na asa do avião. I still haven’t found what I'm looking for. (Não encontro, aquilo que devo estar escondendo.)


Mais alguma coisa?

Sim.

2 comentários:

Anônimo disse...

Vc me pareceu critica demais consigo...meio louca, meio loucura.As pessoas tem medo de ultrapassar sua carapaça dura, e calejada...Os que se aventuram e os que tem coragem sabem o coração enorme(e confuso , às vezes) que vc esconde...menina mulher , flor de um perfume hipnotizante..que espanta os fracos de alma e os medrosos de amor... Pura poesia....

(de sua irma escolhida pelo coração)

Drica disse...

"Pertenço ao número dos que viveram uma época excessiva"

é isso.