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Acender estrelas e estopins

Postado por Ana C. |


Nunca sabia como se aproximar, existência de mãos trocadas por pés. Pensou como talvez fosse bom conhecer alguém diferente de todas as pessoas monocromáticas que cruzaram seu caminho desde que ela partiu. Mas nunca sabia como se aproximar.

Assim, foi com espanto que a viu, tímida e lentamente, ir chegando e colando-se ao seu lado. A conversa foi inevitável, mas já sabiam que iam se dar bem. Como? A gente sabe, só isso. Embora um sempre acabe sabendo mais que o outro.

E a conversa foi recheada de palavras enigmáticas, rodeios e frases esquivas, canta-ventos desenfreados, girassóis sem sóis, músicas que doem e tocam o coração. E, sem mais nem porquê, alguma coisa apagada há muito dentro dele começou a crescer. Uma vontade há muito soterrada, um sonho antigo e esquecido. Nessa hora tornou-se ainda mais misterioso, perdido nos labirintos da alma.

“Posso te escrever?”, pensou em perguntar, mas não perguntou. Não lhe diria que ela voltou a acender seu peito, que talvez ela não entendesse, ou não precisasse saber. Mas, depois de longos anos, tirou a tampa da caneta como quem engatilha um revólver e voltou a escrever, a escrevê-la. Desenhou-lhe as formas com palavras e também o que não se vê, numa escrita tão verborrágica, tão fluída, tão repleta de sinestesias como nenhum outro alguma vez a sonhara. Protelou ao máximo o ponto final, e a história se alongou sem se esgarçar e o verbo perder a força, ou o predicado o predicativo. E, ainda assim, não avistou o ponto final, já que, a história...

1 comentários:

Paula de Assis Fernandes disse...

Anaaa! amei! lindo lindo!
sempre gostei dos seus textos. Fico feliz de te-los encontrado de novo!
beijoo