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Pense num dia com gosto de infância

Postado por Ana C. |


Dias desses, lendo sobre músicas da infância, fiquei pensando que minha infância não teve uma única música que a definisse. Foram tardes e tardes ao som dos vinis da Tv Colosso, Sandy e Júnior e da Xuxa – sim, confesso tudo. São dias perigosos estes, em que eu falo a verdade – mas ao tentar lembrar de uma música sequer dessas... nada.
Caiu tudo no esquecimento.
Lógico, um ou outro refrão, aqueles mais clichês que volta e meia alguém relembra ou ainda tocam em algum lugar, ainda ficaram, mas é realmente frustrante que, tudo aquilo que eu dançava até a exaustão e gritava até ficar sem voz, tenha sumido assim dessa minha memória. Ou vai ver viver é isso mesmo: aproveitar as coisas até a exaustão só para então esquecê-las.
Mas lembro muito bem de uma que eu achava divertidíssima. “Era uma casa muito engraçada, não tinha teto, não tinha nada”. Como é que se pode imaginar uma casa sem teto!? Só de tentar imaginar eu já ria sozinha. E se chovesse? Como as pessoas fariam? Não deve ser nem um pouco saudável morar em uma casa sem teto quando chove. Lógico que nessa época nem passava pela minha cabeça que realmente existiam pessoas que não tinham teto, não tinham nada.
“Ninguém podia entrar nela não, porque na casa não tinha chão. Ninguém podia dormir na rede, porque na casa não tinha parede”. Teto, chão, parede... que casa era essa feita de nuvem!? “Ninguém podia fazer xixi, porque pinico não tinha ‘li’”. Eu não tinha a menor idéia do que era esse tal “li” que o penico não tinha, mas sabia que devia ser algo importantíssimo, tanto que, na sua falta, o penico perdia sua função principal: a de se poder fazer xixi. Era o caos. E eu perguntava o que era “li” e ninguém sabia me responder, então eu escutava a música de novo e pensava que podia ser “ni”, o que fazia um pouco mais de sentido (penico sem “ni”, um “peco”, e ninguém que eu soubesse fazia xixi num “peco”, fosse lá o que isso fosse) mas não. Era “li” mesmo. E continuei na ignorância até, muito tempo depois, ler a letra e descobrir que o meu “li” nada mais era que “ali”. Só não sei por que ninguém me contou isso “ali”, na época.
“Mas era feita com muito esmero, na rua dos ‘lobos’ número zero”. Se os três porquinhos tinham casas, tanto que o lobo tentava e tentava derrubá-las, se os três ursos tinham casa, Cachinhos Dourados que o diga, óbvio que os lobos tinham que ter uma casa. Só não era muito claro por que é que tinha que ser uma casa assim, tão cheia de nada, cimentada no mundo das ideias. Será por que eles eram ‘malvados’? Começava aí, em doses infantis, a tal educação positivista?
E também foi só depois de muito tempo que descobri que a rua era dos “bobos” e não dos “lobos”. Como foi depois de muito tempo que descobri que a música era do poeta Vinícius e, nessa época, eu já andava irremediavelmente apaixonada por ele.
Boba eu que tenho como uma das lembranças musicais mais vívidas da minha infância uma canção que eu nem sequer entendia direito.
E boba eu de achar que hoje em dia entendo as coisas. Vai ver passam alguns anos e, de repente, ploft!, o entendimento despenca em cima da gente como uma fruta madura.
Pareço ouvir risos de crianças zombando de mim.
De qualquer forma...
O que será que as crianças escutam hoje!?

1 comentários:

Angela Rocha disse...

Pois te digo uma coisa... o mundo das crianças se infestou de Jonas Brothers e umas meninas bonitinahs que não lembro o nome.. algo como milis, cirus, montana, hanna... Coisa de louco!!!