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Deslize Casual

Postado por Ana C. |

Sempre gostei mais de Machado que de Alencar. A desdita de Werther também não me matou e até o achei um pouco ingênuo (amor não correspondido = dor). Sofri muito mais com o ciúme de Bentinho, o entendia melhor. Por isso não compreendo de onde esse platonismo exacerbado, coisa mais démodé. (Até o assunto soa meio clichê.)

Por quais tortas e torpes influências passei a (desde sempre?) projetar nos outros fantasias/gestos/sons/palavras/sentimentos/atos que não eram nem nunca seriam seus, isso eu ainda não sei. Vai ver é coisa minha mesmo, de longe, de dentro. Mas assumir o mea culpa pelo intrincado e emaranhado das peças do tabuleiro da nossa vida não é tarefa fácil. Sincericídio.

Ilusão; substantivo feminino. 1. Engano dos sentidos ou pensamento. 2. O que se nos afigura ser o que não é. 3. Quimera. 4. Esperança irrealizável.

Viciada em belas histórias inexistentes. O caminho para casa? Milhares de escaramuças semelhantes: meus medos, meus amores, minhas perdas, meus tesouros, meu eu caleidoscópico e esquizofrênico. Pedra solta na vidraça. Tenho tempo, por favor me devore, que espero com impaciência ilimitada. Aquele... (explosão sensorial) aquele-enfim-tomara-que-sim-que-dessa-vez-seja-mesmo. Que nada, era o carteiro para o vizinho. Outra vez. O peito desafinado ressoa com notas antigas de músicas que não me falam mais. Refugão impera. (Precisa beber muito para entender do mundo.)

Perpétuo quase. A sempre espera do reconhecimento, que caminhamos e brincamos juntos no que foi a alvorada do mundo (sabe mais do que se consegue lembrar). Vem comigo, antes que esses sentimentos mofem, quis dizer e não disse. – Se já desistimos, por que insistimos? Porque somos sonhadores, respondeu alguém uma vez. E esses não morrem sem lutar. – Quis me aproximar, mar de gente, mas passei longe de conseguir. Cheguei depois da hora. Reconheci e aceitei a derrota e intimamente saudei quem ganhou: que seja nobre. O fracasso não me subiu à cabeça, de forma que também saí mais rica, sete de setembro de minha alma. Também você se tornará uma canção, carvalhos e macieiras.

Abre parênteses. Não deixa de ser estranho que mesmo em tempos atuais o eco de antigos costumes continue moldando nossas almas.  Talvez porque sejam verdades. Verdades, mas não para todos. Chega de me iludir com a minha própria face da verdade: agora só a vontade – exército em ordem de batalha – de conseguir mesmo sem compreender ou concordar. Reigi o omonzuru koto. Respeito acima de tudo. Fecha parênteses. 

Um sentimento que se basta e, por isso mesmo, se multiplica. (Se se define, desfigura-se.) Sem fantasias, máscara ou pintura. Simples e nu. Refulgente de 7 luzes, chama ancestral que queima profunda, farol encastelado em rocha sólida iluminando a escuridão. Do passarinho madrugueiro ao feio bicho homem, tudo explodindo em cor. Não se pode ter um novo começo – o que foi, perdido está – mas sempre se pode mudar o final.

Quem sabe encontrar alguém com um querer igual ao meu. Chave azul.

(Mostrai-me o caminho. Fazei-me entender.)

Recomeço.

Hoje.




Comentário à respeito: I can't hide. I wanna hold your hand.